Hoje,
ao entrar em um estabelecimento, deparei-me com diversos gatos, não sou um
adorador de gatos, porém aqueles me cativaram pela docilidade. Havia um em cima
do armário, outro no balcão, logo surge mais um correndo para fora da loja.
Confidenciou-me a dona de que possui 14 gatos. Atrás do balcão de atendimento
havia uma escada por onde emergiu um gato que seria o gato, aquele que
despertaria um sentimento de ternura e compaixão. Não sei definir a sua
pelagem, tende a um amarelo queimado, mas o que mais me chamou a atenção foi o
seu olhar.
Seu
olhar era triste como se carregasse todas as dores, desilusões e saudades.
Questionei a Senhora sobre o gato triste ao que me disse: “-Ele já está
velinho, coitado, tem 16 anos. Em maio partira a matriarca da família felina,
com vinte dois anos, embora não fosse a mãe deles, cuido-os como se fosse, até
mesmo os amamentando. Ele conviveu por 16 anos com ela. Desde então ele tem
andado cabisbaixo, triste, à noite posso ouvi-lo pela casa, nos cômodos,
procurando por ela, emitindo miados melancólicos.” Pude então compreender parte de
sua tristeza.
Retirou-se
do seu convívio aquilo que lhe era o estimo da convivência. Abruptamente se
impõe um vazio, passa a procurar em lugares antes habitados por ela, busca a
sua presença. À noite, escura e aveludada, mãe das almas solitárias, serve como
refúgio para suas buscas incessantes, sofás, cadeiras, em baixo da cama, onde
estará? Tudo em vão. Em uma última tentativa grita, exclama, mas o que se ouve
são apenas miados tristonhos que se perdem na imensidão da noite.
Immanuel D'Ornellas
Setembro de 2013.
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