13 setembro 2013

O olhar taciturno de um gato


Hoje, ao entrar em um estabelecimento, deparei-me com diversos gatos, não sou um adorador de gatos, porém aqueles me cativaram pela docilidade. Havia um em cima do armário, outro no balcão, logo surge mais um correndo para fora da loja. Confidenciou-me a dona de que possui 14 gatos. Atrás do balcão de atendimento havia uma escada por onde emergiu um gato que seria o gato, aquele que despertaria um sentimento de ternura e compaixão. Não sei definir a sua pelagem, tende a um amarelo queimado, mas o que mais me chamou a atenção foi o seu olhar.
Seu olhar era triste como se carregasse todas as dores, desilusões e saudades. Questionei a Senhora sobre o gato triste ao que me disse: “-Ele já está velinho, coitado, tem 16 anos. Em maio partira a matriarca da família felina, com vinte dois anos, embora não fosse a mãe deles, cuido-os como se fosse, até mesmo os amamentando. Ele conviveu por 16 anos com ela. Desde então ele tem andado cabisbaixo, triste, à noite posso ouvi-lo pela casa, nos cômodos, procurando por ela, emitindo miados melancólicos.” Pude então compreender parte de sua tristeza.
Retirou-se do seu convívio aquilo que lhe era o estimo da convivência. Abruptamente se impõe um vazio, passa a procurar em lugares antes habitados por ela, busca a sua presença. À noite, escura e aveludada, mãe das almas solitárias, serve como refúgio para suas buscas incessantes, sofás, cadeiras, em baixo da cama, onde estará? Tudo em vão. Em uma última tentativa grita, exclama, mas o que se ouve são apenas miados tristonhos que se perdem na imensidão da noite.

Immanuel D'Ornellas
Setembro de 2013.

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